sábado, 24 de março de 2012

Pão de Cristo

Depois de meses sem encontrar trabalho, viu-se obrigado a recorrer à mendicância para sobreviver, coisa que o entristecia e envergonhava muito.


Numa tarde fria de inverno, encontrava-se nas imediações de um clube social, quando viu chegar um casal.


Víctor lhe pediu algumas moedas para poder comprar algo para comer.


-Sinto muito, amigo, mas não tenho trocado - disse ele.


Sua esposa, ouvindo a conversa perguntou:


-Que queria o pobre homem?



-Dinheiro para comer. Disse que tinha fome - respondeu o marido.


- Lorenzo, nos podemos entrar e comer uma comida farta que não necessitamos e deixar um homem faminto aqui fora!


-Hoje em dia há um mendigo em cada esquina! Aposto que quer dinheiro para beber!


-Tenho uns trocados comigo. Vou dar-lhe alguma coisa! Mesmo de costas para eles, Vitor ouviu tudo que disseram. 


Envergonhado, queria afastar-se correndo dali, mas neste momento ouviu a amável voz da mulher que dizia:


- Aqui tens algumas moedas. Consiga algo de comer. Ainda que a situação esteja difícil, não perca a esperança. Em algum lugar existe um trabalho para você. Espero que encontre. - Obrigado, senhora. Acabo de sentir-me melhor e capaz de começar de novo. A senhora me ajudou a recobrar o ânimo!
Jamais esquecerei sua gentileza.


-Você estará comendo o Pão de Cristo! Partilhe-o - Disse ela com um largo sorriso dirigido mais a um homem que a um mendigo.


Víctor sentiu como se uma descarga elétrica lhe percorresse o corpo.
Encontrou um lugar barato, mas de comida farta e apetitosa.
Gastou a metade do que havia ganhado e resolveu guardar o que sobrara para o outro dia.
Comeria 'O Pão de Cristo' por dois dias. Uma vez mais aquela descarga elétrica corria por seu interior.


O PÃO DE CRISTO!


-Um momento! - pensou.


Não posso guardar o pão de Cristo somente para mim.


Parecia-lhe escutar o eco de um velho hino que tinha aprendido na escola dominical. Neste momento, passou a seu lado um velhinho.


-Quem sabe, este pobre homem tenha fome - pensou-. Tenho que partilhar o Pão de Cristo com ele.


- Ouça -exclamou Victor-. Gostaria de entrar e comer uma boa comida?


O velho se voltou e encarou-o sem acreditar.


- Você fala serio, amigo? O homem não acreditava em tamanha sorte, até que se viu sentado em uma mesa coberta, com uma toalha e com um belo prato de comida quente na frente.


Durante a ceia, Víctor notou que o homem envolvia um pedaço de pão em sua sacola de papel.


- Está guardando um pouco para amanhã? Perguntou. Não, não. É que tem um menininho que conheço onde costumo freqüentar, que tem passado mal ultimamente e estava chorando quando o deixei. Tinha muita fome. Vou levar-lhe este pão. - O Pão de Cristo!


Victor recordou novamente as palavras da mulher e teve a estranha sensação de que havia um terceiro convidado sentado naquela mesa. Ao longe os sinos da igreja pareciam entoar o velho hino que havia soado antes em sua cabeça.


Os dois homens levaram o pão ao menino faminto que começou a engoli-lo com alegria.


De repente, o menino se deteve e chamou um cachorrinho. Um cachorrinho pequeno e assustado.


- Tome cachorrinho. Te dou a metade. O Pão de Cristo alcançará também você. O pequeno tinha mudado de semblante. Pôs-se de pé e começou a vender o jornal com alegria. Até logo! Disse Vitor ao velho. Em algum lugar haverá um
emprego para você. Não desespere!


- Sabe? -sua voz se tornou em um sussurro-. Isto que comemos é o pão de Cristo. Uma senhora me disse quando me deu aquelas moedas para comprá-lo. O futuro nos presenteará com algo muito bom!


Ao se afastar, Vitor reparou o cachorrinho que lhe farejava a perna.
Agachou-se para acariciá-lo e descobriu que tinha uma coleira onde estava gravado o nome e endereço de seu dono.


Victor resolveu então levá-lo àquele endereço. Caminhou um bom pedaço até a casa do dono do cachorro e bateu na porta.


Ao sair e ver que havia sido encontrado seu cachorro, o homem ficou contentíssimo, e logo sua expressão se tornou séria.
Estava por repreender Victor, que certamente lhe havia roubado o cachorro, mas não o fez, pois Victor mostrava no rosto um ar de dignidade que o deteve.


Disse então:


No jornal de ontem, ofereci uma recompensa pelo resgate.
Tome!


Victor olhou o dinheiro meio espantado e disse:


- Não posso aceitar. Somente queria fazer um bem ao cachorrinho, em gratidão ao que me levou até ele.


- Pegue-o! Para mim, o que você fez vale muito mais que isto!
  Você precisa de um emprego?
  Venha ao meu escritório amanhã.
  Faz-me muita falta uma pessoa íntegra como você.


Ao voltar pela avenida aquele velho hino que recordava sua infância, voltou a soar em sua alma. Chamava-se 'PARTE O PÃO DA VIDA',


'NÃO O CANSEIS DE DAR, MAS NÃO DÊS AS SOBRAS, DAI COM O CORAÇÃO, MESMO QUE DOA'. QUE O SENHOR NOS CONCEDA A GRAÇA DE TOMAR NOSSA CRUZ E SEGUÍ-LO!

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